A cidadania ativa da criança diz respeito mais precisamente a garantir
seus direitos para que esta cidadania realmente aconteça no seu
pleno significado. Uma vez que, uma diversidade de demandas na
atualidade, caracterizam também uma infância com um maior teor de
subjetividades, sendo necessária uma reinstitucionalização não
somente estrutural, mas simbólica também. (SARMENTO, 2004)
A
preocupação, melhor dizendo, a ocupação das instituições,
passando pela família, pela escola, espaços públicos, pela mídia,
pelos estatutos inclusive, deve ser em estabelecer não somente
espaços condizentes com esta infância plural e heterogênea, mas
paradigmas diferenciados até mesmo na capacitação pessoal daqueles
que venham a interagir com esta infância.
A
importância de eu compartilhar uma situação que estou vivenciando
faz-se necessária. Leciono em uma escola da Zona Rural do município
em que moro e em minha turma há uma criança que não comparecia às
aulas desde o início do ano letivo; só veio a estar presente a
partir de julho, quando que pela “enésima” vez a mãe foi
convocada para comparecer à escola para dar algum tipo de
satisfação. A mesma relatou que seria impossível o comparecimento
da criança às aulas, uma vez que ela era responsável pela sua irmã
de 8 meses no período em que ela, a mãe, estaria trabalhando. Esta
não tinha conhecimento da questão do direito à “Bolsa Família”.
A
mãe foi orientada sobre os pré requisitos para se conseguir a
“Bolsa Família”, além de ser aconselhada a conseguir negociar
com a patroa sobre a questão do horário de forma que não
atrapalhasse a criança de estudar, o que conseguiu com êxito.
Embora ainda fique com a irmã durante a parte da manhã, comparece
com mais frequência às aulas, seus olhos brilham a cada conteúdo,
descoberta, participação. Porém, está muito aquém do nível da
turma, mas envolve-se e demonstra bastante interesse em aprender,
ainda que esteja ciente de que ficará retida no 5º devido ao número
de faltas. Esta subjetividade ainda não foi contemplada.
A
questão de contemplar todas as subjetividades significaria, segundo
os princípios desta 2ª modernidade, conformar-se com paliativos
para maquiar as duras realidades vivenciadas pelas crianças de
diferentes classes sociais. Tanto o entretenimento desenfreado, o
apelo para o consumismo de bens supérfluos, ou até mesmo os
programas das políticas públicas.
Mesmo
que as Infâncias sejam diversas, as crianças ainda encontram-se
numa sociedade formatada sob a “logística” adulta, o que as
insere num mundo praticamente sem ludicidade, embora a oferta de
brinquedos seja cada vez mais intensa e democrática, até sob o
ponto de vista econômico; porém o brincar está cada vez mais
comprometido com demandas complexas: bullying,
pedofilia, trabalho infantil, anorexia, obesidade infantil, gravidez
precoce, pequenas misses, relações familiares com padrastos,
madrastas, ½ irmãos a convivência com as situações de risco como tráfico de drogas, marginalidade... são
muitas preocupações antes do brincar.
O que deveria ser algo natural está revestido de muitas nuances nem
tão coloridas assim, porém dignas cada vez mais de estudos e
análises até para a proteção do bem mais precioso, a vida humana, que, não temos como correr desse fato, inicia-se com a criança.